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Enem tinha só 7% de questões difíceis

Cursinho aplicou a prova que vazou a 15 mil alunos e analisou as respostas; novo exame será amanhã e domingo

Os 4,1 milhões de estudantes que farão o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) amanhã e domingo devem encontrar uma prova de nível fácil a médio. A conclusão foi tirada após a correção do exame cancelado em outubro e aplicado a 15 mil alunos de escolas públicas.

Nenhuma das 180 questões da prova vazada é considerada muito difícil. No total, há 14 questões difíceis - 7,78% da prova. A maior parte das questões está entre médias, 63,34%, e fáceis, 25%. Em uma escala que vai de - 4 (muito fácil) a 4 (muito difícil), a que mais se aproximou do alto da classificação foi a questão 89 de Matemática, sobre geometria, com pontuação de 1,56 (mais informações nesta página). O Enem é montado para que as questões sejam igualmente divididas em fáceis, médias e difíceis - cada grupo representaria um terço do total.

A aplicação e correção pelo mesmo conjunto de modelos matemáticos que o Ministério da Educação (MEC) vai usar no Enem, chamado de Teoria da Resposta ao Item (TRI), foram realizados pelo Sistema COC de Ensino. Os temas que dominaram a prova cancelada foram meio ambiente, sustentabilidade e poluição, com 17 questões - duas delas falavam da Amazônia. Água também foi frequente: 15 questões.

O padrão de dificuldade deve se repetir neste fim de semana. Isso porque a nova prova será formulada a partir de um banco de 1,8 mil questões pré-testadas, do qual também saiu a prova anterior. Se o prenúncio de uma prova fácil tranquiliza os estudantes, a característica pode trazer outros problemas, como dificultar sua utilização como vestibular - status que o Enem ganhou este ano para mais de 25 universidades federais.

O presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep), Reynaldo Fernandes, defende que o Enem conseguirá discriminar candidatos de todos os níveis. "É muito raro alguém que consiga acertar tudo", diz ele. "Também estamos no primeiro ano, poderemos calibrar no futuro."

Especialistas consultados pelo Estado discordam. "Nas carreiras de grande competição era importante que tivesse questões com grau de dificuldade mais altos, para diferenciar concorrentes bem preparados", diz o coordenador pedagógico do COC, Arnaldo William Pinto. O professor do Instituto de Matemática da USP Antonio Luiz Pereira também condena a baixa exigência do exame e concorda que a escolha entre os candidatos bem preparados pode ser "quase aleatória". "As pessoas que se preparam bem estariam todas próximas da nota máxima", diz, que critica as questões de exatas em geral.

Apesar disso, Matemática e suas Tecnologias teve oito questões difíceis, o maior índice entre as áreas que compõem a prova. De acordo com a correção do COC, a questão mais fácil foi a 3 (-2,67) de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. O enunciado dizia que a maioria das declarações de imposto de renda é realizada pela internet e, ao fim, perguntava o que isso significa.

O linguista Sírio Possenti, da Unicamp, critica não só a questão, mas toda a área de linguagens. "A prova é desigual, mesmo que cubra vários temas. Nessa questão, não sei como o aluno seria avaliado." Após a divulgação da prova, a análise geral era que ela estava mais fácil do que o esperado. "Achei mais simples do que as anteriores", diz o supervisor de Geografia do Anglo, Reinaldo Scalzaretto. Para o professor de História do Cursinho da Poli Elias Feitosa de Amorim Júnior, "no que diz respeito a conteúdo, não foi fechado como nos vestibulares."

(O Estado de SP, 4/12)


Data: 04/12/2009