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Em homenagem ao dia do historiador, o PET-História traz uma conversa com José d'Assunção Barros.

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Você sabia que no dia 19 de agosto comemorou-se o dia do Historiador? A lei, aprovada em 2009, determina esta data em homenagem a Joaquim Nabuco, um historiador, diplomata, abolicionista, jurista e político nascido em 19 de agosto de 1849. Mas, passados 5 anos desde a regulamentação historia-memoria629da lei, o que podemos falar sobre esta profissão que escolhemos para nossas vidas? Para ajudar nessas reflexões, o PET HISTÓRIA teve a honra de realizar uma entrevista com o historiador e também músico Prof. Dr. José Costa D’Assunção Barros (UFRRJ).

Com uma carreira de sucesso, graduado em História e Música na Universidade Federal do Rio dedownload Janeiro. Mestre e Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense, atualmente professor adjunto da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, José D’Assunção Barros possui mais de 100 artigos escritos — alguns para revistas internacionais — e 15 livros publicados, entre os quais podemos destacar: O campo da história (2004), Cidade e História (2007), O projeto de pesquisa em história (2005), Raízes da música brasileira (2011), Teoria da História (5 volumes, 2011) e A Construção Social da Cor (2009). Atuando em temáticas diversas como historiografia, teoria da história, metodologia da história, história cultural, história da arte, cinema-história, musicologia histórica e história da música, também é filiado ao laboratório de pesquisas Pluralistas.
Apresentamos algumas questões ao professor sobre o surgimento de seu interesse pela área, o atual panorama dos cursos de História no país, as leituras que considera essenciais para a formação de um historiador, as exigências do mercado profissional e conselhos para os estudantes dos cursos de História.

Agradecemos sua disponibilidade e atenção ao nos conceder esta entrevista, e esperamos que você, leitor, possa encontrar respostas enriquecedoras para sua vida profissional e pessoal.

Veja a seguir a entrevista completa realizada pela petiana Ana Carolina Monteiro:

1.Sabemos que os caminhos que nos levam a optar pelos trilhos da História são os mais variados e curiosos possíveis. Sendo assim, o que levou José d'Assunção Barros ao estudo da História?

Corro um pouco contra a corrente de especialismos que, já há algum tempo, rege a nossa época. Hoje em dia, valoriza-se alguém que se especializa não apenas em uma área, mas até mesmo em uma sub-área, em um tema, ou ainda na “pontinha da asa de mosquito” do tema. Os estudiosos e pesquisadores que se interessam por uma certa diversidade de áreas são um pouco depreciados, ou desmotivados, seja pelas agências de fomento, seja pelos pares tomados pela febre do especialismo. Comecei minha resposta sobre minha trajetória pessoal com esse raciocínio porque me considero, precisamente, um interessado em muitas coisas, mas que gosta de trabalhar em todas elas com bastante seriedade. Além de Historiador, sou Músico, e também autor de Literatura. Como estudioso, interesso-me por Teoria da História – área na qual fiquei mais conhecido – mas também por artes, música, pintura, cinema, questões ligadas às lutas contra as desigualdades sociais, entre outras. Acredito que o meu interesse pela História surgiu porque é uma área na qual podemos tocar em muitas coisas ao mesmo tempo. Tudo tem uma História. Dentro da História, podemos estudar praticamente tudo. Isso me atraiu muito na História. Uma outra preocupação minha, a qual me predispôs ao estudo da História, é certamente a preocupação contra os alarmantes níveis de inconsciência humana, de alienação, de mecanicidade da vida diária, de aceitação da exploração sem resistência, de incorporação das convenções sem questionamentos. O homem moderno, às vezes me parece, acha-se profundamente mergulhado no Sono (metaforicamente falando). Acredito que a consciência trazida pela História possa nos ajudar a nos libertarmos deste sono.

2.De acordo com os dados do Ministério da Educação (MEC), em 2014 havia 296 cursos de História no Brasil, tanto no ensino público como privado. Como o senhor avalia, em linhas gerais, estes cursos no atual cenário do país e como lidar com a exigência de publicações acadêmicas nesse novo cenário de expansão dos cursos de história?

Compreendo que, em acompanhamento à expansão das universidades como um todo desde o governo Lula, os cursos de História também se expandiram, acompanhando a tendência geral. Vejo o movimento de forma positiva, pois há sempre demanda para professores de História em toda a rede de Ensino, e também há cada vez mais demanda para a função de pesquisador de História. A sociedade, hoje, clama pelo trabalho de historiadores em áreas diversas, como os museus, o patrimônio, as mídias, os meios de comunicação, entre outras. A exigência de publicações acadêmicas insere-se, entrementes, na atual concepção de universidade, na qual os professores devem ser também pesquisadores e profissionais preocupados com a extensão e com a ligação do trabalho das universidades com a sociedade externa. Trata-se de uma concepção adequada, como bem se discute nos congressos de Educação. Muitos professores universitários queixam-se da demanda “quantitativista” de publicações, pois principalmente a Pós-Graduação cobra dos professores produção acadêmica, particularmente sob a forma de artigos e livros. Acredito que é importante, para os historiadores produtores de conhecimento, que se assegure o equilíbrio entre “quantidade” e “qualidade”. Publicar só por publicar (para ganhar um ponto qualquer numa avaliação) é um efeito colateral, em muitos casos. Outro problema que se percebe nos nossos dias é que – enquanto muitos têm uma crítica justa contra a concepção quantitativista de produção – outros, não é raro, também se refugiam nesse discurso de “resistência” para justificar uma produção “zero” ou quase zero. Isso também é um problema. Certa feita, ouvi de uma professora universitária, que já não publicava um único artigo há dez anos, que ela era contra a política quantitativista das pós-graduações. Há legitimidade nessa posição? Deixo a pergunta no ar.

3.Ao passo que o projeto de regulamentação da profissão de historiador segue para a fase de aprovação no senado brasileiro, os historiadores têm buscado - ainda que de maneira tímida - seus espaços além da sala de aula, como em instituições de pesquisa e museus. Levando em consideração esses fatores, quais são as perspectivas de ofício para os futuros historiadores?

Acho que as perspectivas são as mais favoráveis. Os historiadores têm conquistado seus espaços nos museus, nas instituições de patrimônio, nas instituições de pesquisa, ou mesmo em assessorias para o cinema e a televisão, para jornais e outras mídias. Vejo isso de forma extremamente saudável para a profissão.

4.O PET HISTÓRIA/UFCG realiza uma atividade chamada de Oficina de Leitura, onde escolhemos uma obra ou texto de interesse do grupo e discutimos. Em março deste ano, trabalhamos com o seu livro, O projeto de pesquisa em História, que contou com várias reuniões e reflexões enriquecedoras e esclarecedoras para o caminho acadêmico de cada um. Assim, quais são as leituras que o senhor considera indispensáveis para a formação de um historiador?

Considero fundamental que o historiador em formação leia muitos e muitos textos de Teoria e Metodologia. A Teoria e a Metodologia são as pernas que precisamos para a nossa caminhada científica. E como orientar nossas escolhas? É preciso citar antes os clássicos, como Marc Bloch, Braudel, Thompson, Foucault (e, antes destes, Marx, Weber e outros), apenas para mencionar alguns autores de linhas muito distintas, pois é sempre necessário oferecer ao estudante em formação uma certa diversidade a partir da qual ele possa fazer as suas escolhas. Depois disso, há os mais recentes, como Koselleck, Hartog, entre outros. Citei autores que, em algum momento, fizeram reflexões sobre a Teoria e a Metodologia da História, Chamo atenção para a necessidade de também incluirmos em nossas leituras os autores brasileiros, como Sérgio Buarque de Holanda, já um clássico, e também autores recentes. Considero uma honra que o grupo tenha selecionado um de meus livros para leitura, pois é para grupos como este que eu escrevo, mesmo. Acho importante valorizarmos o autor brasileiro. Temos grandes contribuições de brasileiros em várias áreas de conhecimento, mas muitas vezes um estranho “complexo de colônia” faz com que as escolhas de leituras sempre recaiam nos estrangeiros, como se fossem superiores. Embora muitos autores brasileiros sejam valorizados – depois de muitos anos de luta e divulgação de um trabalho autoral sério – não é rara essa postura que pretende ver um selo de qualidade em um autor só porque ele não é nacional.

5.Durante a graduação é comum momentos em que repensamos nossa escolha pela área. Muitos decidem por trancar ou abandonar o curso, tomando outros caminhos e entrando na estatística de evasão. Entre os motivos figuram a falta de incentivo e problemas pessoais. O que o senhor poderia falar para as pessoas que neste momento podem enfrentando essa situação? Por fim, algum conselho para nós que continuamos nessa jornada?

Sugiro que, se você chegou a conclusão que a sua área de interesse é outra, por motivos realmente viscerais, mude realmente. Mas não por pensamentos utilitaristas (por exemplo, a área “tal” é mais rentável, conseguirei nela ser um profissional mais bem remunerado, embora não aprecie muito essa profissão). Nada pior do que trabalhar o resto da vida em uma área que você não ama. Se a questão são problemas pessoais (uma fase difícil, por exemplo), ou a falta de incentivo (a incapacidade dos outros valorizarem a sua escolha), eu recomendo, ao contrário: persista. Você não vai se arrepender de trabalhar na área que realmente gosta (pode até reclamar do salário, mas isso é outra história, e também um processo de lutas). Em contrapartida, se você abandonar a área que gosta, e ir para outra perseguindo a ilusão do dinheiro, possivelmente vai se arrepender para o resto da vida, mesmo que não reconheça isso conscientemente. Então, meu conselho é este: persistam, sigam adiante na jornada. Como toda jornada, ela tem pontos difíceis; mas, ao final de tudo, sempre compensa.

Agosto/2015
 

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