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O PET-História inicia as atividades de 2016, trazendo uma conversa com Laura de Mello e Souza.

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No mês de novembro de 2015, o PET HISTÓRIA UFCG realizou uma entrevista com a historiadora renomada Profª. Drª. Laura de Mello e Souza.

Nascida em São Paulo, Laura foi docente do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo por mais de 30 anos, aposentando-se em 2014. Graduada em História pela USP, com mestrado e doutorado em História social pela mesma instituição, Laura ocupa a cátedra de História do Brasil na Sorbonne, além de ter atuado como professora visitante nas Universidades Nova de Lisboa, Universidade de Minnesota, Universidade de Southampton, Universidade de Toronto, École des Hautes Études en Sciences Sociales, Universidade de Sevilha e Universidade Nacional do México.

Entre os escritos da historiadora podemos destacar Desclassificados do ouro (1982), O diabo e a Terra de Santa Cruz (1986) e Inferno atlântico (1993), participando também da organização da coleção História da Vida Privada no Brasil (1998). Suas pesquisas seguem a mesma temática, girando em torno da história de Minas Gerais no século XVIII, cultura, sociedade e política no império português nos séculos XVI-XVIII, relações entre a Europa e o Novo Mundo nos séculos XVI-XIX, historiografia brasileira do século XX e atualmente redige pesquisa sobre as migrações de três cortes europeias durante o período de expansão napoleônica.

Na entrevista a seguir, realizada pela petiana Ana Carolina Monteiro, você encontrará discussões sobre o historiador e os arquivos, história como saber científico, narrativa, ensino e o que a Profª. Laura de Mello pensa à respeito do que é ser historiador(a). Boa leitura!


*O grupo PET HISTÓRIA UFCG agradece a disponibilidade e atenção da Profª. Drª Laura de Mello e Souza por conceder a entrevista e colaborar.

Entrevista


1. Em uma entrevista para a FAPESP, em 2011, a senhora afirmou "Eu sou uma historiadora de arquivo, continuo sendo e não abro mão disso" ao ser questionada sobre como foi tomada pela febre dos documentos. Visto essa relação e o cenário atual dos cursos de História pelo Brasil, como a senhora vê a atual produção de monografias, dissertações e teses? O historiador sabe o caminho para até os arquivos?


O caminho para os arquivos pode ser aberto pelos cursos ou buscado pelo próprio aluno que inicia a pesquisa. No meu caso, o início foi muito solitário, minha universidade não oferecia cursos, salvo algumas exceções, que acompanhassem os alunos aos arquivos. Sei que há departamentos que o fazem, e nesse caso os alunos aproveitam muito. Mas só os arquivos não bastam: a formação cuidadosa é imprescindível, senão os alunos/pesquisadores não sabem o que buscar nos arquivos. Acho que a formação criteriosa deve inclusive preceder a ida aos arquivos. Quando falei o que está citado, referia-me a meu percurso, uma pesquisadora já madura. Na USP tornei-me historiadora assistindo os grandes historiadores que por lá passavam e que lá lecionavam. Os arquivos vieram depois.

2. O debate sobre o caráter científico da História continua pertinente nos dias atuais, pois muitos são os obstáculos do historiador para se legitimar em determinados espaços de conhecimento. Como a senhora avalia esse quadro?

O debate vai continuar e é bom que continue, pois não sei se o que legitima a História como forma de conhecimento é o fato de ser ou não científica. Primeiro precisamos definir o que entendemos por ciência. Generalizando bastante, vejo a História como uma forma imprescindível de conhecimento, muito diferente das ciências ditas exatas. E o que legitima a História, a meu ver, não é o fato de ser ou não científica, mas antes seu caráter formativo e humanista. 

3. Durante o mês de novembro desse ano realizamos uma série de oficinas e palestras com a temática "Leitura e escrita na produção acadêmica". Visto a predileção da senhora pelo tipo de história narrativa, quais são os desafios e os caminhos nesse ofício do historiador?

Toda história é mais ou menos narrativa, mas não tenho predileção pela narrativa em si. Não sou uma contadora de histórias, e sim uma historiadora, que uso a narrativa para incitar à reflexão e procurar compreender os objetos que escolho. Caso contrário, seria ficcionista. O historiador deve procurar ser claro e escrever bem, mas há grandes historiadores que não escrevem especialmente bem, como um de meus favoritos no Brasil, Oliveira Lima. E a boa escrita do historiador não é obrigatoriamente aquela que se aproxima da literatura. Até foi assim no passado, tome-se por exemplo o historiador francês Jules Michelet. Hoje não é mais.

4. Ensinar é um dos desafios que enfrentamos no caminho da licenciatura. Ainda mais quando a tecnologia e a acessibilidade à informação estão cada vez mais presentes na vida dos alunos. Na jornada do professor em valorizar sua disciplina, como transformar as aulas de História de maneira que estimule e envolva a classe?

Ensinar é dificílimo, e hoje mais do que nunca. Antes as aulas expositivas, magistrais, tinham maior impacto. Hoje é preciso usar as imagens. Nos meus últimos anos de docência na USP aderi ao power point, com grande dificuldade, mas acabei gostando e tendo resultados muito bons. Não o power point que reproduz o que o professor vai dizendo na sua aula, mas a análise da imagem. Minha experiência mostrou que isso motiva muito os alunos. Projetar documentos com os quais trabalhamos, por exemplo. Dar concretude a eles. E acredito muito na discussão de textos. Sempre trabalhei muito em cima do debate de leituras. Mas para isso, as turmas não podem ser muito grandes, e os alunos têm que ler. O professor tem de deixar claro, desde o início, que é impossível fazer um curso de humanidades sem ler muito.

5. Para concluirmos, a pergunta emblemática: o que é História e o que é ser historiador(a) para Laura de Mello e Souza?

A História é o ar que eu respiro desde que adquiri o sentimento do mundo. Tenho dificuldade em ver o mundo por outro prisma que não seja o da História. A História, como disse Edward P. Thompson, é a disciplina do contexto: sei que outros especialistas, filósofos por exemplo, dão muito menos importância ao contexto. Eu sou viciada nele, tenho que enquadrar tudo, o tempo todo. Aprendi a ler sozinha, aos 4 anos de idade, e aos 6 anos ganhei um livro de História de um grande amigo de minha família, que lembro com saudade e emoção, e que naquela altura era frade dominicano, Benevenuto de Santa Cruz. Fiquei apaixonada: lembro-me perfeitamente de abri-lo e ler: “O Egito é uma dádiva do Nilo”. Daí em diante, persegui a História na Literatura: meus livros preferidos na infância eram os de Monteiro Lobato que tratavam de História – como O Minotauro ou Os Doze Trabalhos de Hércules – e na primeira adolescência os de Alexandre Dumas, como Os Três Mosqueteiros. Meu romance de cabeceira, durante a vida toda, e desde os 15 anos, quando o li pela primeira vez, é Guerra e Paz, de Leão Tolstoi, uma das mais extraordinárias reflexões sobre a História que conheço. Do francês Gustave Flaubert, famoso por sua Madame Bovary, o meu romance preferido é Salammbô, que se passa em Cartago na época das guerras com os romanos. E mais recentemente, Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar. Enfim, a História é o meu mundo, e minha forma de conhecer e procurar entender o mundo.
 

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